23.9.13

Odeias-me por tanto me amares

Deborah Parkin



Não compreendo as mensagens de amor que me deixas. Aquelas, que dissimulas em textos poéticos e cheios de metáforas como se tivesses a falar da vida de outra pessoa. Como se não fosse das tuas entranhas incandescentes que escreves. Desse desejo infernal de me teres. Martirizas-te e vives assombrada com a minha existência. Punes-te por não viveres em paz com a tua. Com a tua existência apaixonada pela minha. Embaraças-te sozinha. Culpas-te e escondes-te de coisas que mais ninguém sabe existirem. Então, de quê e de quem te escondes, para além de ti mesma?
Tens vergonha dos teus pensamentos e de ti e de tudo o que fantasias sobre mim. Só te atreves a pensar em mim quando fechas os olhos e sabes que os teus pensamentos não serão violados por ninguém. Fazes-me tua nessa vida de prazeres inconfessáveis mas sempre com o medo a rondar-te os pensamentos. Sempre com medo. Sempre com suores a rebentarem-te pelos poros com medo de ser invadida e descoberta. Com medo que descubram essa mulher que me ama. Essa que tens viva dentro de ti. 
Diz que me admiras de uma vez por todas. Que me amas. Sim, que me amas. Porque não dizê-lo, se o sentes? Que diferenças vês entre viveres em silêncio por fora e viveres aos gritos por dentro? Apenas a dor que em ti agudizas. Nada mais. Se viveres mais um dia sufocada nesse inferno de desejos por cumprir, rodeada de máscaras perturbadas, apenas tu definharás.

Só mesmo os teus olhos e esse coração enforquilhado podem ver mal num sentimento como o amor. Odeias-me por me amares. Que culpa tenho eu disso?

Porque não me amas em liberdade mulher? Ama-me sem essas fronteiras que ergues dentro de ti. Ninguém te irá condenar, não te condenes tu. Faz-me tua e não temas vigiar-me as carnes e os pensamentos de perto. Invade-me de olhos abertos, de boca presa ao pecado, de respiração colada ao peito. Descobre a vida através do meu corpo. Vive em mim.

Não, não compreendo as mensagens de amor que me deixas porque não pode sentir amor quem se teme a si próprio.




4 comentários:

  1. se quiseres colocar a fonte da foto: Deborah Parkin.

    beijo

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  2. e o texto... uau! poderoso, sim!

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    1. E tu, por onde andas, minha desgraçada?

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    2. miúda... eu não saio do mesmo sítio. até enjoa :)

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