Nascemos com poucos dias de diferença. Crescemos lado-a-lado na mesma rua em que o alcatrão quente de Verão nos marcou os joelhos das muitas brincadeiras que arriscávamos. As frutas, que colhíamos das árvores dos nossos quintais - e que roubávamos dos nossos vizinhos quando as nossas não eram doces - nunca discriminaram a boca por onde andavam. Acolhiam a minha e depois a tua, queimando-nos a saliva da castidade. Ainda brincávamos com o fogo quando, para nós, este ainda não se escrevia com a realidade. A nossa inocência não nos fazia ver, nem prever, que o que nos unia naquelas galhofas, com os sucos das frutas que nos lambuzavam as caras, ia muito além de brincadeiras de crianças. Aquelas coisas que sentíamos na barriga não eram maleitas de infantes nem excesso de açúcares. A barriga tremia porque nos aproximávamos dos anos em que nos poderíamos desfrutar em pleno. Sem preconceitos. Sem barreiras. De vez em quando um olhar trocado denunciava-nos. O toque de mãos acidental, deixava de o ser a cada transpirar de ansiedade. A cada inspiração ofegante de medo. Os nossos corpos pediam-se a cada passar de anos. As nossas bocas acabaram por se encontrar com a maturidade. Sabíamos que a idade nos iria libertar para viver esta grande paixão, que nasceu, crê-se hoje, ainda nas barrigas das nossas mães, quando se juntavam à conversa de braços estendidos sobre o muro.
Mas nunca as nossas mães se teriam rido e conversado sobre aquele muro se soubessem que um dia nos amaríamos tão inesperadamente. Se adivinhassem que o que trocávamos, além de brinquedos e risadas, eram também arritmias de coração. Nunca se teriam olhado sequer de frente. Fomos a vergonha das nossas mães. O nosso amor foi o maior terror das suas vidas. O nosso amor foi a tua e a minha salvação.
Sem ti não saberia o que é o calor de uns pés debaixo dos lençóis. Nem o cheiro do pão quente de manhã, servido na cama. Não saberia a que sabe um beijo de madrugada enquanto fazemos amor bem devagar. Olhos nos olhos. De sorriso nos lábios. De pele suada.
Não saberia nada disso porque apenas tu poderias compreender o que surpreende uma mulher. O que é o desejo de uma mulher. Como se ama o corpo de outra mulher. Apenas tu, minha adorável mulher, poderias saber como me amar por teres um corpo igual ao meu.
Como sempre adorei! E o mais engraçado foi que li não tendo em conta a imagem (passou-me ao lado o seu significado) e li entusiasmado até ao fim e surpreendi-me com o facto de no fim a pessoa "retratada" ser uma mulher. Estava a imaginar desde o começo da história tu e um rapaz.
ResponderEliminarGostei! =)
Que alívio!
EliminarA intenção era mesmo essa e cheguei a pensar que a tinha desvirtuado com a fotografia.
Foi bom ter este feedback.
De qualquer maneira a história não me inclui... atenção :)))
Obrigada!
Das melhores coisas que li aqui pela blogosfera. Um hino ao Amor. Puro. Sem mais nada. Só Amor. Brilhante!
ResponderEliminarAdoro quando descubro um blog que valha mesmo a pena seguir.
Oxalá eu pudesse e soubesse escrever assim... Obrigada!
http://wwwpodepalcopt-ni.blogspot.com/