Existe uma cidade a sul dos povos civilizados, metida entre terras secas e um céu sem fim, onde as pessoas são infelizes.
Não gostam deles, não gostam dos outros, não gostam de espanhóis nem de japoneses. Não gostam de quem os governa mas não se sabem governar. Não gostam do frio, reclamam do calor. Não gostam das estradas que dali saem nem dos caminhos que conduzem até si. Não gostam de quem os visita mas também não gostam de sair dali.
Nunca sorriem e gostam pouco de quem gargalha. Andam de cara no chão, não se cumprimentam entre si e olham para o lado quando alguém lhes ousa falar.
Gostam de desdizer, de negar o que prometeram e de jurar que nunca juraram. São pessoas que, apesar de não gostarem de outras pessoas, preferem falar da vida alheia do que das suas próprias vidas.
Falam mal de quem emagreceu, ridicularizam quem engordou, ironizam sobre quem se separou e invejam quem tem amor. Eles não se amam como povo, não conhecem a sua identidade e vivem aprisionados ao passado. Vivem de glórias que desconhecem, falam de figuras que não foram do seu tempo e não conhecem quem faz história agora.
Falam mal de quem escreve sobre eles mas nunca se defendem. E quando alguém os defende ficam desconfiados.
Nessa terra seca e estéril, um dia, as pessoas levantarão os rostos, olharão uns para os outros, irão trocar palavras entre si. Vão perceber que o seu mal é a solidão, que o que os isolou foi o estado de espírito e não a falta de multidão. Irão olhar para trás e ver que o que restou foram histórias sem nada para lembrar.
Mas o que estas pessoa nunca irão ver, é que nunca se permitiram ser infelizes. Porque nunca gostaram de si.
Tão verdade...
ResponderEliminarque me doí este texto.
ResponderEliminarquero te contradizer e defender a cidade mas não consigo.. tu tens razão
Leonor