17.2.15

Do vinho (I)

Paula Rego


Passa pouco das nove da noite e aqui estou eu, sozinha, na companhia de um cálice de Porto na mão.
Ou no braço do sofá. Sinto demasiada preguiça para o segurar. Por isso está ali pousado e quando o quero bebericar ora estico, ora encolho, o braço para o alcançar. Talvez, bem vistas as coisas, o esforço até seja maior que aquele que faria se segurasse sempre o copo e o largasse apenas no fim de o acabar de beber.
Nunca saberei. Não vou, tampouco, testar o tempo e o esforço empregue no esticar e recolher o braço para agarrar num copo e voltar a pousá-lo. Teria a variável do peso do Porto que irá, necessariamente, diminuir à medida que a minha degustação avançar. Quanto mais leve o copo, mais ligeiros se tornariam os movimentos, e menos cansada eu ficaria. Mas apenas posso teorizar sobre o assunto. Tudo o resto, o resultado concreto, daria demasiado trabalho a alcançar. Afinal, bem vistas as coisas, não passa de um cálice de Porto que dentro de pouco tempo estará consumido por uma solidão nocturna.
Talvez, e apenas talvez porque essas certezas também demorariam muito tempo a conseguir obter, se o cálice de Porto fosse bebido numa quente e alegre tarde de Verão, este pesasse menos. Ou, pelo menos, cansasse menos, porque me apossaria dele por períodos mais prolongados mas em menores vezes. Ou seja, não o largaria tanto, com a urgência de o beber mais rápido, e isso talvez me cansasse menos.
Mas isto seria apenas um talvez, porque, bem vistas as coisas, analisar as variáveis das coisas que nos cansam, cansa tanto ou mais, que o tempo e a maçada que levaria para as seria analisar.




6 comentários:

  1. Ui que isto por aqui não está nada famoso.E que tal beber esse cálice com prazer?
    É que de cansaço em cansaço ainda te vês a morrer:(
    Bora lá arrebitar que o caminho é olhar para a frente!
    Um beijinho cheio de energia*

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  2. Olá,voltei...
    Só para dizer que,por tua causa,me apetece um cálicezito de Porto!
    Então,à nossa:)

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    1. Entretanto esmoreci... isto tanto dá alegrias como agruras.

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  3. Acabo de escrever um post onde refiro a Paula Rego e quando o vou publicar, dou de caras com este teu. Nunca tinha visto Paula Rego ser referida nos blogues e de repente isto. :-)

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    1. Eu já tinha mencionado a Paula Rego aqui no blog mas, sinceramente, já escrevi tanta coisa que já nem sei em que post foi. Mas agora até estou naquela de ir procurar.
      L O V E P.R.

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    2. Então eu não li esse teu post.

      Também gosto muito de P.R. e por acaso também de José Malhoa (recomendo visita ao museu de seu nome, nas Caldas da Rainha, é surpreendentemente bom). Escolheste muito bem! (olha, e tomava um copo contigo, um não, dois)

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