17.2.15

Do vinho (III)

Almada Negreiros



Ele há surpresas!
Diacho!
Na entrada do terceiro cálice em cena, sou surpreendida por um peso nas costas. Daqueles pesos que levaram ao "entornanço" do primeiro cálice.
Caramba!
Que desperdício. Dois cálices ao ar e uma dor de costas que, não tarda nada, se haverá de transformar numa dor de cabeça. Daquelas que, há-de Deus pensar, mais parece resultado de eu ter entornado uma garrafa de Offley inteira, em menos de um ai.
Ai!
Que dores.
E que dissabores.
Que desconsolo. Que desalento. Tantos calores, tantas teorias, peso para cá, peso para lá, e terminamos com nada.
E isto é assim nos copos e na vida. Começa-se bem, o mundo promete, e depois derrapa-se com pouco estilo e o espalhanço é do mais escorregadio que podia haver.
Quando comecei o Porto, não era com este texto que queria terminar. Tinha em mente algo mais poético, mais profético e menos lúcido, certamente. Mas mais caloroso e menos fatalista. Mas a vida, ai a vida, ai o vinho... é sempre assim: já sabemos como acaba mas, mesmo assim, insistimos em começar.


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